botos, pedras que não caem e prédios bonitos
uma voltinha por Laguna - Santa Catarina
A primeira vez que fui a Laguna eu ainda era muito nova para criar memórias. Tenho uma foto em uma piscina gigante e boias nos braços. Uma foto na areia com um chapéu de crochê e muito protetor solar no rosto. Apesar de não lembrar de nada, o sorriso de criança estampado nas fotos me faz acreditar que fui feliz ali.
Em 2018, quando já tinha a capacidade de criar memórias – e já havia criado muitas –, estava lá com a minha melhor amiga e lembro de comprar livros em sebos, jogar cartas no hotel, tirar fotos perto da lagoa e ficar na água até os dedos enrugarem. Mas Laguna ainda era apenas uma cidade que eu gostei muito de conhecer.
Em 2020, entrei na faculdade e conheci o João. E você pode se perguntar por que isso é importante, mas o fato é que isso muda tudo. Gostar de Laguna é um traço de personalidade muito forte do João. Em pouco tempo de convivência – mesmo que online na época, devido à pandemia –, você descobre que ele vai a Laguna todo ano desde criança e que ele ama Laguna. Com um pouco mais de convivência, você recebe diversos fatos sobre a cidade: os botos que ajudam os pescadores a pescar, o Ravena Cassino Hotel, que já foi um cassino na época em que cassinos eram permitidos no Brasil, ou que Laguna era uma cidade importante porque ficava na divisa do Tratado de Tordesilhas. Com ainda mais convivência – e agora falo de me apaixonar por ele, começar a namorar e conhecer a família –, você consegue entender que muito do amor que ele carrega pela cidade vem do amor e dos bons momentos que ele viveu ali com os pais.
No início desse ano, logo depois da virada, estava mais uma vez seguindo caminho até Laguna (em 2023 também fui para lá, mas passei boa parte do tempo mal e apenas fiquei íntima do hospital e de um consultório médico), com o João, é claro. Não por coincidência, ficamos hospedados no Ravena Cassino Hotel e, como você, leitor, já sabe, realmente foi um cassino quando cassinos eram permitidos no Brasil.
Tentamos aproveitar ao máximo o tempo que tínhamos para fingir que não voltaríamos para a faculdade e para o trabalho na próxima semana:
Centro Histórico
O Centro Histórico de Laguna foi tombado pelo Iphan em 1984. É o bairro mais antigo da cidade e começou a tomar forma em 1676, quando Domingos de Brito Peixoto, o fundador, chegou com seus navios pelo canal da lagoa de Santo Antônio dos Anjos e parou ali. O lugar era bem estratégico, pois os morros ao redor ajudavam a esconder os barcos e a futura vila de possíveis inimigos que poderiam passar pela costa.
Tudo aqui é lindíssimo! Com um pouco de atenção, você percebe algumas plaquinhas nos prédios que são identificações do estilo arquitetônico daquela construção. São três os estilos arquitetônicos do patrimônio tombado pelo IPHAN: Arte Déco, Luso-Brasileiro e Eclético. Eu tenho orgulho de dizer que, de todos os anos que o João foi para Laguna, foi só quando eu fui na mala e vi as placas que ele se deu conta de que elas existiam.








Só descobri depois que voltamos que existe um site com informações mais detalhadas de cada construção, então fica a dica se você por acaso visitar a cidade.
Pedra do Frade
Eu acho que a Pedra do Frade foi o meu lugar favorito. É um bom lugar para ver a imensidão azul e lembrar que a gente é tão pequeno, aliviar a cabeça pensando que nenhum problema é tão grande assim. Enquanto eu entendo o porquê da música "Teeerraaa, Planeta Águaaaa!" existir, também vejo qualquer pássaro preto e chuto que é um biguá, tendo certeza que tenho uma grande chance de acertar. Nada além dos tons de azul e verde e uma risada frouxa quando vejo que o João está mais uma vez fazendo o que ele faz de melhor: sendo o terror da ansiedade social e conversando com um completo desconhecido – torço para me permitir ser assim um dia.
Olhando para a pedra ali parada, é muito difícil não se perguntar como ela veio parar ali, desde quando está ali e até quando ela ficará ali. Mas fico feliz de ter tido a oportunidade de tê-la visto ali. O João jura que ela está mais arredondada desde a última vez que a viu, o que faz todo o sentido, pois sabemos que água + movimento + pedra = erosão.
Antigo Big Ben
O Antigo Big Ben é um restaurante, num prédio pequeno e histórico, no centro histórico de Laguna, bem pertinho da estátua e da casa de Anita Garibaldi.
A comida é uma delícia, apesar de bem simples. Comemos purê de moranga ali quase todos os dias, e eu nem gosto tanto assim de moranga. De tantas vezes que fomos ao Antigo Big Ben, nos consideramos íntimos do lugar, tanto que eles serviam comida no jantar só pra gente e lanches para os outros – João e seu pai têm grandes questões em não comer lanches no jantar, precisam de “sustância”. Fomos tantas vezes para o almoço e o jantar que nos perguntaram se não estávamos enjoados da comida de lá. Tanto que o João e o pai se despediram dos funcionários no último dia.
Fonte da Carioca
A Fonte da Carioca é a única que ainda sobrevive das três fontes que já existiram em Laguna. Construída em 1863 e “melhorada” em 1906, é onde nós e todos pegamos água bem gelada e potável direto da torneira. Fomos todos os dias encher galões de água fresquinha e levar para o hotel. É uma grande economia não precisar comprar algo que, para início de conversa, nem deveria ser vendido.



Sorvepatri
Um dos lugares que o João também frequenta desde criança, tanto ele quanto a família eram reconhecidos pelo dono e levavam bronca caso passassem na frente e não entrassem para tomar um sorvete. É um cantinho quase imperceptível, mas com um dos melhores sorvetes que já comi e uma das senhorinhas mais queridas que já conheci. Decidi ousar, mesmo com os olhares julgadores, e combinei uma bola de sorvete de maracujá e uma de chocomenta todos os dias e acredito que essa se tornou a minha combinação de sorvetes favorita.
Molhes da Barra
É aqui onde se confirma o que o João sempre diz sobre os pescadores e os botos. De forma simples, tanto os pescadores quanto os botos querem as tainhas, e os peixes, querendo fugir dos botos, acabam enroscados nas tarrafas dos pescadores, enquanto os peixes fugindo das tarrafas acabam servindo de refeição para os botos. É muito legal ver que os pescadores reconhecem indivíduos específicos, os nomeiam e os homenageiam depois que morrem em um mini cemitério.
Infelizmente, eu não tenho uma câmera boa o suficiente para conseguir tirar boas fotos de botos, então apenas guardei na memória cada pulinho deles para fora d’água que vi com o binóculo.


Farol de Santa Marta
Sinto que Laguna deixou de ser só mais um lugar que eu gostei de conhecer. Se tornou um lugar onde fiz memórias e, por isso, agora faz parte da minha breve história de vida. Um lugar onde comecei a entender o quanto o amor que carregamos por alguém muda como percebemos as coisas.
No fim, eu consigo perceber por que o João ama Laguna tanto assim, e eu, por viver a cidade com ele, amo também.


















quero ir pra laguna ver botou e tomar sorvete de maracujá com chocomenta
que vontade de ir pra laguna😭😭